Furto ao bom gosto.
Mais uma mancha na imagem de “bom filme”

Antes de tudo, venho declarar que só estou repassando uma postagem de um site muito conhecido aqui. O “ÚltimoSegundo” do IG, muito conceituado por suas notícias e lido por centenas de milhares de pessoas todos os dias. Mas como outras pessoas já haviam me falado, o filme peca muito no insensato dedo da idealizadora e seu marido diretor. Então, sem mais o que falar, transcrevo a matéria completa para a análise de vocês.

O assalto ao Banco Central de Fortaleza, em 2005, desde o início parecia perfeito para o cinema. Uma quadrilha cava um túnel de 80 metros de comprimento, sai no meio do cofre, foge com R$ 164,7 milhões – o equivalente a três toneladas e meia de notas –, não dá um tiro e parte de seus integrantes nunca é descoberta, muito menos o dinheiro. O maior roubo da história do país e o segundo do mundo. Hollywood pura (veja cenas de assaltos a banco no cinema). Pois coube ao ator Marcos Paulo, conhecido por seu longo trabalho como diretor de novelas globais, a tarefa de levar essa história às telas em “Assalto ao Banco Central”.

Artificialidade e humor involuntário.
Giulia Gam e Lima Duarte.

Pode ser quase impossível de se imaginar, mas não deu muito certo. Os responsáveis, como de praxe, estão no topo da pirâmide criativa. A começar pelo roteirista, Renê Belmonte, autor de várias comédias de sucesso (“Sexo, Amor e Traição”, “Se Eu Fosse Você 1 e 2”). Na ânsia de mergulhar na ficção e se afastar de qualquer compromisso com a realidade, Belmonte romanceou a trama e criou um leque enorme de personagens para o bando, mais ou menos como os especialistas da franquia “Onze Homens e um Segredo”. Ao invés de conferir personalidade, só esboçou cada um deles, injustiçando um elenco esforçado e fazendo uma confusão dos diabos. O vídeo promocional apresentando toda a quadrilha deveria ser entregue junto com o ingresso – assista.

O chefe do bando é Barão (Milhem Cortaz), manda-chuva bem alinhado, voz grave e cara de mau – aparentemente, o único modo de mostrar que ele era o cabeça da operação foi colocá-lo jogando xadrez. A seu lado, está Carla (Hermila Guedes), sua namorada, perua de ar fatal. Barão vai atrás de Mineiro (Eriberto Leão), que acaba de sair da cadeia, para montarem juntos a quadrilha. Boa pinta, dizem que ele tem várias identidades, um trambiqueiro profissional. Resta ao público acreditar.

O resto do grupo se forma rapidamente, daí entram Gero Camilo, Heitor Martinez, Juliano Cazarré e mais um pessoal que não diz muito bem a que veio. O destaque é Tonico Pereira, no papel de um engenheiro comunista, encarregado de supervisionar a construção do túnel a partir de uma empresa de fachada nas redondezas. Seu recrutamento é ideológico, já que roubar o banco é, para ele, uma forma de tirar o doce das “ratazanas capitalistas”. Tonico rouba a cena sempre que aparece. A Vinícius de Oliveira, conhecido como o garotinho de “Central do Brasil”, coube o infame alívio cômico: ser um atrapalhado homossexual evangélico(preconceito puro).

Nessas alturas, já dá para imaginar que a comédia tem uma função importante. Em entrevista divulgando o filme no Festival de Paulínia, onde foi a atração de encerramento, Marcos Paulo disse que a equipe só percebeu esse ingrediente na ilha de edição. A julgar pelo que se vê na tela, foi um erro de cálculo incrível, pois o humor surge fácil e esvazia qualquer tentativa de suspense. Além do que, depois de ouvir pela décima-quinta vez uma frase de efeito clichê nos diálogos (“Por que pegar um peixe só, se posso pegar o cardume inteiro?”, “Entre o céu e o inferno, o caminho é curto”, “Mais velho que Caim e Abel”), o jeito é tentar achar graça nisso.

Com mais de 30 anos de experiência na televisão, Marcos Paulo nunca tinha dirigido um filme antes. Nota-se: a impressão é de se estar assistindo a uma longa novela, e sem o padrão Globo de qualidade. A arte e o cenário são indigentes, pouco críveis, em descompasso com um projeto desse tamanho, saudado como a primeira coprodução brasileira com a Fox International. A sede cearense do Banco Central, alvo do assalto, por exemplo, é apresentada por um screen saver na tela do computador. Nada da fachada imponente do prédio ou ao menos uma explicação da dureza que vai ser chegar ao cofre. Como fazer alguém crer que era difícil entrar lá, cadê o desafio? A tensão não existe.

Mais do que técnica, uma questão de know-how, que os profissionais brasileiros ainda não adquiriram no gênero de ação. Em busca de ajuda, a equipe de “Assalto ao Banco Central” foi atrás de profissionais da Polícia Federal. Sem desmerecer o trabalho dos servidores, é a mesma escola que deu ao cinema brasileiro absurdos como “Segurança Nacional” e “Federal”. Desta vez, não foi diferente: Lima Duarte e Giulia Gam (uma agente lésbica), responsáveis por investigar o roubo, soam artificiais – não por culpa deles – e daí o humor brilha, agora involuntário – ou foi sempre assim?

Marcos Paulo demonstra pouca aptidão para comandar sequências de ação e nem mesmo a perseguição de uma cegonha carregada de carros parece interessante. Perto de “Assalto ao Banco Central”, a série “Carga Pesada”, da qual o cineasta estreante participou, é o equivalente brasileiro a “Bad Boys”.

Quando promoveu “Tropa de Elite 2”, o diretor José Padilha admitiu ter contratado uma equipe estrangeira, experiente em Hollywood, porque estava ciente de que o timing e a posição das câmeras do gênero eram bem diferentes do que se faz por aqui. Não se trata de colonialismo, mas humildade e disposição de aprender. Os frutos,todo mundo conhece.

Sem esse apoio e com um roteiro, no mínimo, humilde, Marcos Paulo deixou para a trilha sonora, composta por André Moraes e Chris Pittman (do Guns N’ Roses), a tarefa ingrata de criar suspense, drama, romance e todo o resto. Além disso, disfarçou as “barrigas” que encontrou na fase de montagem, como ele mesmo admitiu em Paulínia, fazendo uma mistura desprositada na linha temporal. Só torna uma trama que deveria ser clara em algo, em certos momentos, incompreensível.

A aposta em “Assalto ao Banco Central” é alta – o filme entra em cartaz em mais de 300 salas, um lançamento de grande porte –, calcada na fama do caso e no elenco global. Quanto tempo será que vai durar o blefe?

Pois é, isso é tudo. Quem quiser ler direto da fonte, clica aqui.

No mais, para os mais próximos que ainda não foram assistir, um conselho. Não desperdicem seu dinheiro. Esperem mais umas semanas e aluguem em sua locadora preferida. O efeito de assistir no cinema ou em casa é igual.

Até o próximo post.

P.S. Quem ainda não assistiu, pode assistir direto do Youtube. Segue link abaixo.

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